sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Espantos...

Porque será que nos surpreendemos com as coisas boas no Brasil? Olhamos de soslaio, torcemos o nariz, levantamos a sobrancelha, abrimos a boca e colocamos a mão na frente em sinal de: “Ohhhhh”! Espantamos-nos com tudo o que é bem-feito pois simplesmente estamos acostumados com o que é ruim, principalmente naquilo que é público! A nós, deixam as migalhas, o resto, o pior! Esta é a praxe, o usual. Por isso fiquei boquiaberta ao visitar a unidade da rede SARAH, no Lago Norte em Brasília. Um dos lugares em que em meio a um suspiro, podemos exclamar com orgulho: o Brasil tem jeito! (Viva!)
O terreno destinado à construção do hospital, que oferece tratamento gratuito às pessoas com problemas no aparelho locomotor, fica à beira do lago Paranoá. As camas dos pacientes ficam em salas com paredes de vidro que proporcionam uma vista belíssima! Algo para amenizar a dor do corpo e da alma dos que lá estão. Primeiro mundo são as instalações, o lugar, os equipamentos, a organização mas principalmente as pessoas que lá trabalham. Não vou chamá-los de funcionários, porque a palavra se associa aqueles do serviço público que, enfadados pela rotina do ofício diário, tornam-se ervas daninhas em seus postos.
Quando terminei de ajudar minha amiga descer do carro e acomodar-se na cadeira de rodas, já havia uma pessoa a postos para ajudá-la se fosse necessário. Não foi preciso. Seguiu empurrando a cadeira até entrarmos no hall limpo do lugar. O silêncio só foi quebrado por dois meninos que empurravam suas cadeiras sorridentes planejando um passeio e um jogo de basquete. Todos se conhecem, se cumprimentam, se tratam bem. Um ambiente no qual os que lá ficam por dias, meses e às vezes anos, se tornam uma família! É ali onde as pessoas que perderam os movimentos começam lentamente a recuperar sua autonomia, sua vida. E foi para essas pessoas que finalmente destinou-se o melhor! Um espaço planejado, limpo e bonito! Um lugar privilegiado mas que, ao invés de servir para construção de mais algumas mansões a rodear o lago, foi reservado aos excluídos, aos rejeitados por terem perdido seus movimentos, por serem diferentes.
Quando vejo projetos como este, com este tipo de visão, aquela tristeza que nos acompanha ao analisarmos o contexto político-social de nosso país, dá lugar a uma alegria serena que brota da esperança de que estamos no caminho certo.

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