domingo, 21 de fevereiro de 2010

De cara lavada

(escrito em 20/02)

Hoje me dei conta de algo mágico: eu ganhei meu rosto novamente. Pela primeira vez em muitos anos, saí de casa sem maquiagem e assim permaneci o dia todo sem medo de olhar nos olhos das pessoas temendo a pergunta que por anos ouvi: o que houve no seu olho? Bateu?

Eu já me sentia bem há meses, mas talvez hoje, eu tenha percebido tudo a fundo e preciso compartilhar com vocês. Meus familiares e meus mais íntimos amigos, que acompanharam minha busca por médicos e um tratamento que pudessem me “curar” podem apenas imaginar o que isso significa para mim, mas só eu tenho a dimensão exata do que isto significa. Só eu sei.

Desde meus 16 anos de idade, eu passei a usar maquiagem para primeiro disfarçar e, mais tarde, para esconder uma mancha ao redor de meu olho direito. Esta mancha, que começou como uma estranha olheira e cujo real nome só descobri graças a minha amiga médica Lica, era na verdade um Nevus de Ota. Um emaranhado de veias que dava este aspecto azulado a pele do meu rosto e que, acreditem, chegou ao pior nível quando completei 25 anos. Houve um tempo que, com medo de perguntas do tipo: o que houve no seu olho? Você bateu? Alguém te deu um soco? Eu sequer saía do banheiro após o banho, sem usar um corretivo, sem tentar disfarçar com pó. Ir a praia era uma tortura porque eu adoro o mar e ele inevitavelmente tirava meu disfarce. Em 2005 me mudei de Santa Maria para Porto Alegra. Quando nem os tipos mais sofisticados de maquiagem escondiam a mancha, quando eu não conseguia mais encarar as pessoas com medo de perguntas sobre o que havia em meu rosto, eu decidi investigar a fundo o que eu tinha e nenhum médico sabia dizer.

Fui a neurologistas que me mandaram tirar tomografias, fazer ressonância magnética e nada respondia as minhas perguntas. Minha amiga Lica, ainda estudante no último ano de faculdade, pesquisou e me mandou artigos sobre o que ela havia achado (e mais tarde soube que ela acertou): Nevus de Ota. Era final de 2005. Lembro até hoje que chorei ao ver, nas fotos, pessoas com manchas semelhantes a minha e que respondiam muito bem ao tratamento a laser. Laser? No rosto? Era a primeira vez que eu ouvia falar disso.

O tratamento era caro, as consultas com especialistas eram caras, e eu não tinha como pagar. Ganhava líquido cerca de R$ 900 e as consultas eram, pelo menos, R$ 250. Na época ela estava terminando a faculdade e me levou para a aula de cirurgia vascular dela (assim eu não precisava pagar a consulta) com um dos maiores especialistas na área em Porto Alegre, dr. Adamastor Pereira. Ele e os alunos me examinaram e ele bateu o martelo no que minha amiga já havia diagnosticado: Nevus de Ota. Ele me disse que o tratamento era laser. Mas ele não atendia por convênio algum (claro) e eu segui minha busca até chegar a Dra. Clarissa Prati (dermatologista).
Com ela fiz algumas sessões de tipo de laser chamado Luz Pulsada. Funcionou um pouco, mas a mancha custava a ceder.

Em 2007, já em Brasília, pedi indicações a Dra. Clarissa e encontrei a Dra. Cristiane Dal Magro. O tratamento seguia caríssimo e era com lasers mais potentes . Ela me dava descontos e deixava eu parcelar cada aplicação que custava (já com os abatimentos) R$ 450. Desta vez, com esforço, eu podia pagar. Foram seis sessões. Eu precisava usar um colírio anestésico no olho, para poder colocar uma proteção interna. Tinha também um protetor externo de chumbo para evitar que os raios chegassem à retina. Cada sessão era uma tortura. Nem mesmo as grossas camadas das pomadas anestésicas aplacava a dor. Com paciência, Dra. Cristiane seguia as aplicações e tentava me acalmar ao mesmo tempo que me encorajava a agüentar só mais um pouco. Depois de cada sessão a pele ao redor do olho ficava cheia de feridas e as casquinhas só saíam inteiramente após duas semanas. Maquiagem leve só depois de uns 4 dias da aplicação e a pele só voltava ao normal quase um mês depois. Fiz seis aplicações mas na quarta eu já estava feliz. Parei o tratamento por que o dinheiro começou a ficar escasso mas também porque, apesar de ainda restar parte da mancha, ela estava tão mais clara que me deixava feliz.

A última sessão que fiz foi em fevereiro do ano passado, há exato um ano. Sei que logo precisarei me submeter àquela tortura novamente porque os micro-vazinhos vão aos poucos voltar a aparecer. Mesmo assim, farei com alegria! Por que apesar do alto valor da sessão, não há dinheiro no mundo que pague eu ter recuperado a minha auto-estima, recuperado a coragem e a beleza de olhar nos olhos das pessoas.

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