sexta-feira, 28 de março de 2008

Uma rosa e uma foto

Quanto vale uma meta, um objetivo, um sonho?
Quanto vale o passado, nossas crenças e nossa história?
E quanto vale a tranqüilidade de estarmos no conforto de nossas casas após um dia de trabalho ou uma vida de esforço?

Por várias vezes, enquanto tomávamos uma cerveja e comíamos um aperitivo em um bar ou restaurante qualquer da Asa Norte, fomos surpreendidos por um senhor de uns setenta e poucos anos segurando um balde de rosas e com uma máquina fotográfica pendurada no pescoço.
A abordagem era sempre a mesma. Com um jeito tímido ele perguntava em um tom baixo, o suficiente para ser ouvido e não atrapalhar a conversa:
- Uma rosa e uma foto?
Não era maltrapilho, ao contrário, vestia calça social, camisa, cinto e sapato. Além da máquina grande para fotos instantâneas e das rosas, outra marca registrada é o bonezinho cinza estilo boina que acentua o ar de dignidade do vendedor.
A cena se repetiu por pelo menos outras quatro vezes. Circulando pelos bares e restaurantes, o velhinho oferecia suas rosas e suas fotos. Nunca vi ninguém comprar. Nunca vi ninguém dar mais do que dois segundos de atenção já que eram poucos os que se dignavam a olhar para ele e responder: Não, obrigada. A maioria das reações era de desdém. Alguns ainda balançavam a cabeça enquanto seguravam os cigarros e continuavam a conversa. Outros sequer faziam qualquer sinal. Ele pacientemente mudava de mesa e mudava de bar e mudava de mesa e mudava de bar...
Mas ele não era o único a tentar vender seus produtos pela noite de Brasília, mas sua mercadoria era única! Uma rosa e uma foto! Mesmo assim, os "clientes em potencial" pareciam dar um pouco mais de atenção aos vendedores de DVDs piratas que circulam aos montes por todos os lugares.

Hoje fiquei muito triste com o que vi. Em meio a uma conversa com amigos fomos abordados: - DVD?
Quando levantei os olhos para agradecer e dizer que não, fiquei chocada! Era o velhinho da rosa e da foto! Fiquei sem reação no momento e depois, quando ele já ia para outras mesas, observei que a máquina ainda seguia pendurada ao pescoço. Quis levantar, quis ir atrás dele, quis perguntar porque ele tinha desistido de vender aquilo que simbolizava talvez um pouco de seu romantismo, um pouco de sua época e quem sabe se sua própria história. Quis saber os motivos que levavam um senhor, que podia ser meu avô, a sair do conforto de sua casa e estar às onze da noite circulando pelas mesas de bares para conseguir algum dinheiro.
Teria conseguido? Para que seria? Teria uma esposa enferma ou um filho necessitando de ajuda? Ou seria um neto o alvo de seu sacrifício?
Vi o senhor deixar o bar e levar com ele meu riso. Pensei no meu avô, em quão longe ele está! Por alguns segundos me confortei em lembrar que ele estava em sua cama, ao lado de minha avó e sem necessidade de percorrer a noite em busca de uns trocados. Mas a consciência daquele velhinho precisando de ajuda, quem sabe uma palavra ou um sorriso mais do que algumas moedas, tirou de mim qualquer vontade de ali permanecer.
Para mim, a noite havia acabado e as rosas também.

2 comentários:

Anônimo disse...

Prefiro pensar que foi por um motivo nobre a mudança, pois só assim podemos acreditar que existem boas intenções no mundo, fora de qualquer mesquinharia!

Roberta disse...

Quem é vc? Pq nao assinou?
Snif snif...