segunda-feira, 19 de maio de 2008

Adeus Romu


Por mais certa que seja a morte, é incrível como jamais estamos preparados para encará-la. Ontem ela veio para levar o Romualdo. Depois de lutar por cinco meses contra um câncer no estômago que se espalhou impiedosamente para outros órgãos, este cara fenomenal foi levado deste mundo.
Quando fui vê-lo no hospital há três semanas, o homem magrinho em cima da cama lembrava pouco o Romu alegre que conheci no ano passado. Com dor, sem conseguir se alimentar, era difícil para ele sustentar uma conversa sem se cansar. Falava, parava, respirava, engolia a saliva, soluçava, voltava a falar, parava, respirava... Eu e uma colega da TV fizemos o que pudemos para animá-lo. Mandei fazer as cópias das fotos do aniversário dele e levei comigo. Chegamos agitando, mandando ele se levantar e ir trabalhar, dissemos ao médico que éramos as amantes dele, mostramos as fotos para a irmã e a enfermeira, rimos e fizemos rir.
Ao sair a irmã nos acompanhou até a porta e chorando nos disse que só um milagre o salvaria. Respondi que milagres aconteciam todos os dias e a abracei com força. Saí com uma esperança do hospital mas a colega da TV que havia ido comigo saiu desolada. Disse que o soluço dele lembrava o do pai dela antes de morrer. Tentei animá-la dizendo que ele estava passando por um mometo ruim mas que melhoraria.
Semana passada fui informada que ele estava numa fase terminal mesmo e que não tinha mais volta. A pior notícia veio na sexta-feira quando a última informação dos médicos dava conta de que seria o último fim de semana dele. Ontem à noite uma mensagem no celular confirmava a morte de Romualdo de Souza Farias. Ela venceu, pensei. A morte venceu mais uma vez. Sabemos que no fim ela sempre vence, mas há sempre a esperança de ludibriá-la para conseguirmos um pouco mais de tempo, um pouco mais de vida. Quando saí daquele hospital eu achei que ele conseguiria, achei que ele a enganaria para estar conosco por mais alguns anos. Triste, muito triste.
É mais uma pessoa luminosa que deixa este mundo para brilhar junto às estrelas.


------------------------------------------------------

Abaixo o texto de despedida do jornalista Rinaldo de Oliveira, também amigo do Romualdo:

Ele teve que ser muito, muito Macho nessa vida.Pra enfrentar de frente o preconceito de todos.Pra mostrar a preferência sexual sem perder o respeito e a credibilidadedos colegas que chefiava.O Romu foi Macho muitas vezes:quando administrou chefias com inteligência, não com gritos.quando recebeu a notícia do câncer e decidiu lutar, em vez de se entregar.quando resistiu às dores com valentia.quando deixou a tv justiça no auge da chefia dele para buscar a cura.quando assumiu com sorriso a careca provocada pela quimioterapia.Foi Macho quando deixou a vaidade de lado e buscou conforto nos braços dosamigos.Macho quando ?comemorou a vida? na última festa de aniversário.E que ninguém diga o contrário desse homem que, mesmo na adversidade, deuexemplo de dignidade, de esperança e de alegria para quem teve o prazer deconviver com ele, mesmo que por pouco tempo.
Rinaldo de Oliveira

Um comentário:

Homero Pivotto Jr. disse...

Não conheci o jovem esse do post, O Romu. Mas, se era teu amigo, com certeza deveria ser uma pessoa legal. Infelizmente, apesar de piegas, a morte é a única coisa certa na vida. Por isso, é melhor aproveitarmos da maneira que consideremos mais apropriada para sermos pessoas felizes.
Inteh