"Brasília...ilha ilha ..."

Brasília é uma cidade muito estranha...
A primeira impressão que tive foi de uma cidade bonita, limpa, organizada, é verdade, mas .... estranha.
Mais estranho ainda é não saber explicar os motivos que me fazem sentir assim a respeito do lugar que é, e será por algum tempo, minha morada (sabe-se lá Deus onde estarei em alguns anos... sou uma folha ao vento, lembra?)
Quando penso na minha chegada a Porto Alegre, lembro de ter sentido algo parecido... aquela quantidade de ônibus e pessoas circulando me deixavam zonza... aqui são os carros e a impessoalidade de tudo que me espantam.
As pessoas tem rodas e não pernas.
A capital federal não foi feita para os pobres e os "grandes" arquitetos e engenheiros não previram espaços para que as pessoas que desejem, se desloquem utilizando membros comuns à maioria dos seres humanos: as pernas!!
Há gente em Brasília ilha ilha? Sim, claro!! Milhaaaaares em seus carros e algumas centenas, vindas de cidades satélites para trabalhar ou estudar, podem ser vistas nas paradas de ônibus. Diariamente junto-me a esta parcela da população que, como eu, não tem rodas...
Eu nunca alimentei um grande sonho de ter um carro. Achava importante mas jamais levei muito a sério a idéia, até porque, um carro de 15 mil reais representa pelo menos, duas graaaandes viagens, e esta sempre foi minha moeda: viagem!
Em Porto Alegre eu não tinha problemas em me locomover. Onde eu morava, estava perto de tudo e de todos e quando precisava, dezenas de linhas para milhares de lugares passavam bem em frente ao meu edifício. Sem falar nos amigos que estavam sempre prontos a oferecer carona.
Aqui, não é possível ficar menos de 15 minutos a espera de uma condução, a menos que a sorte esteja realmente ao seu lado e; neste caso, ela quase nunca está. Eu chamo de condução, porque é exatamente isto, uma forma de você se deslocar (não importa como...).
Existe uma espécie de taxi-lotação que eles chamam de Zebrinha. Não entendo porque o apelido tão carinhoso para algo que mais se parece com uma bomba, prestes a explodir. Não há ar-condicionado em NENHUM ônibus de Brasília, e as zebrinhas são assim, ahm, digamos... a escória dos ônibus. São pequenas, desconfortáveis, cheiram a pneu e óleo queimado (sim!) e os motoristas dirigem como se estivessem participando de um filme de ação (não posso me queixar de falta de emoção hein?).
A minha sorte é que a zebrinha não é o único ônibus que vai até a Esplanada e Praça dos Três Poderes. O meu azar é que a outra opção, o "Esplanada", passa a cada 20 ou 30min...
Mas... isto tudo não é nada afinal, eu SEMPRE me virei muito bem sem carro. Não seria nada se... não fosse a volta do STF para casa! Rá! Aí é que está!
Após às 20h, horário que normalmente deixo o trabalho, os ônibus se tornam ainda mais escassos e não é necessário dizer que após mais de 2 meses... a cortesia dos colegas em me dar carona já não é mais a mesma.
Tudo isto para dizer que estou me sentindo pressionada. Sim , pressionada. Eu definitivamente NÃO priorizo carro, mas estou me sentindo quase que obrigada a ter um. As pessoas me olham indignadas: "Você não tem carro? Como faz para viver em Brasília?". Internamente eu respondo: Um carro são no mínimo DUAS ótimas viagens entendeu?? Mas a única coisa que consigo externar é um resignado: "Pois é, acho que no fim do ano vou ter que comprar um..."

Depois de dois meses descobri que é duro não ter "rodas" e o pior é não ter a menor vontade de tê-las mas sentir-se obrigada a. Mas afinal para que rodas? Quem precisa delas numa ilha ilha ilha...?



(obs:Há muitas outras explicações sobre porque, para mim, Brasília é uma ilha... aguardem)