sexta-feira, 12 de outubro de 2007

O Grande Mentecapto e a minha ignorância



"Quando eu era menino, os mais velhos perguntavam:

o que você quer ser quando crescer?

Hoje não perguntam mais.

Se perguntassem, eu diria que quero ser menino"


Sabe aquela culpa que dá (e uma certa vergonha também) quando você desconhece algo ou alguém que DEVERIA conhecer? Pois é... ontem me senti assim ao ver a peça As mulheres que marcaram a vida do Grande Mentecapto, baseada no livro de Fernando Sabino.
No colégio e mesmo na faculdade eu lia textos dele em exercícios nas apostilas e tenho uma vaga lembrança de que nas aulas de literatura também estudei algo a respeito. Só que ontem, ao chegar no elegante Centro Cultural Banco do Brasil, comecei a me perguntar: quais os livros que Fernando Sabino escreveu? Onde ele nasceu? Qual o universo central de suas obras? E uma pontinha de tristeza bateu ao confrontar-me com a triste realidade: eu não tinha resposta para nenhuma de minhas perguntas. A consciência de minha ignorância fez crescer, nos minutos que antecediam a peça, uma certa tristeza. Sim, tristeza! Pelos conhecimentos tão básicos e simples que eu deveria ter! Piorou quando passou por nós um homem de meia idade e a mulher que coordenava a bilheteria e entrada do espetáculo disse: esse é o filho do Fernando Sabino. A Léa, colega que me convidou para a peça e arranjou os convites, prontamente diz: e o gravador?? Respondi: agora não é o momento, faltam cinco minutos para começar o espetáculo e ele ta correndo de um lado para o outro. Mas depois cheguei a lamentável conclusão: o que eu iria perguntar para aquele homem? Pensei comigo: de que adianta ter lido quase todas as obras de Shakespeare, falar cinco línguas e NAO CONHECER minimamente a obra de Fernando Sabino??? Tristeza. Fiquei lutando com esse sentimento que, aliado ao cansaço, poderia produzir um efeito exagerado para o momento. Tratei de dissipar esses pensamentos e tomar o copo de cerveja que me ofereciam. Quando tomei o último gole, soou a última campainha para o início da peça. Eu, Léa, Adrielen e Ricardo corremos para pegar nossos lugares. E não foi fácil. Todos sentados, escuridão total. Sem uma lanterna à tiracolo, agradeci a tecnologia que popularizou os celulares.
Durante pouco mais de uma hora, nos divertimos com a excelente montagem da peça e interpretação dos personagens. O Grande Mentecapto me lembrou um pouco de Don Quixote, de Cervantes. Fiquei um pouco menos triste em identificar a possível inspiração de Sabino.
Reconhecida a falta de conhecimento, restou-me administrar a culpa na mesa de um bar entre amigos. Desta vez sem cerveja! Um suco de acerola bastou para afogar as mágoas de minha ignorância.

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